20070426

a 26 pranto rubro

as entranhas estão a dar cabo de mim, é como se uma criatura sem nome socasse alternadamente um e outro ovário, alternadamente, como num combate de boxe, saltitando sobre um pé e o outro

acordei tarde, ou melhor acordei cedo e fui acordando depois cada vez mais tarde

trazia um resto de sonho pardo, trazia o anseio de um dia mal fadado de trabalho comum, entrei na cabine de projecção e tal como previra no ante-sonho, estava tudo modificado, e como em qualquer matéria de sonho, irreconhecível aos olhos coados da realidade, enfim, reconhecia não reconhecendo, temia não temendo,

o equipamento está em desordem, enquanto procuro dar nome às coisas e reconhecer o material para enfim dar início à sessão não dou conta de mim, quando olho no fim de mim para baixo, estou deitada, assustada, perco água, ontem vi o véu pintado, baseado num romance de somerset maugham, a cólera provoca desinteria, em três dias perde-se àgua para a morte, no início pensei que me tinha mijado, passo a expressão, depois olhei para baixo, e dentro da mancha de água havia sangue. Escoara-se a vontade de levantar-me, quis ficar assim, entregue ao charco, entregue à incapacidade de resposta, será que a cólera escoa a vontade?

Na sala os alunos esperavam pacientemente, entretanto começa a sessão, não me perguntem como, e não me perguntem como, eram filmes portugueses, de cariz quase pornográfico, isto de gajas com o período, há-de haver sempre, mas sempre, uma imagem de uma mulher gotejante ao pé de uma banheira, um mosaico axadrezado de branco e negro, um espelho condoído pela vaidade, uma flor ressequida num jarro esquecido na borda de uma janela que dá para um jardim que dá para uma rua que dá para uma cidade que dá para um rio que dá para o mar.

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