Fala-me de navios, eu tão porto.
Antes
mais tarde quando transbordava de desejo, desencontrou o prazer
Depois foram até ao café da praia, um café e um pingo directo por favor. Acreditam que ela me tem às riscas? Transparentes? Às riscas! Olhava o mar naquele alvoroço que não encontrei. Comprimiu o anseio. Comprimi o anseio. Partiu dali pensando sorrisos, sem voltar o rosto, sem dobrar a memória, largando o seu cheiro no primeiro lavatório, sem remorso, sem pena, sem água. Olhou o mar enquanto esquadrinhava a entrada do café, olhou a chávena, tão desolada quanto ela, voltou-a, tomou-a nos dedos, indagando-se sobre a razão daquele vazio, voltou-a, 360º e uma eternidade. Vem aí um carro, e voltou-se sobre si, desceu a saia, subiu as meias e uma eternidade escorria-lhe pelos dedos, uma eternidade reflectida no espelho, uma eternidade sob o peso dos joelhos. E voltou a chávena, o som do tornar da página lembrava a distância, o oceano como uma chibata. Às riscas, pensava, procurando absolver-se! Às riscas, pensando não doer. O mar turvo, o vento indiferente, o frio lembrando a verdade indómita.
Vem ali um carro, num murmúrio que quase assustava o perjúrio, balançou-se ligeiramente, estendeu a mão, tocou-lhe no canto do olhar, pelo fim do rosto, às riscas, compondo o que era possível, fixava a janela, escondia a cara com a mão injectada, sentia-a particularmente despida, particularmente crua, particularmente real, as páginas gritavam o indizível, a crise, o peso, os trinta às riscas.
Fala-me de navios, e eu tão porto.
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